quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O último abraço



Há um ano nesse mesmo horário estava no prenúncio de algo que mudaria para sempre a minha vida e de muita gente da minha família.

Na verdade tudo começou a mudar na semana do feriado de 7 de Setembro. Meu avô estava prestes a fazer uma cirurgia de risco, mas que por sua forte saúde, todos achavam que seria algo que ele iria superar e estaria logo conosco para viver por muitos anos.

Com sua cirurgia marcada para o dia 12, fui vê-lo para que lhe passasse paz, tranquilidade e lhe dar um abraço. Por alguns motivos, a cirurgia que estava marcada para as 7 horas, não tinha se iniciado as 15 horas, quando o médico apareceu e disse que não era prudente realizar a cirurgia naquele momento, passando para o mesmo horário do dia seguinte. Assim que o médico saiu do quarto, o telefone toca e ficamos sabendo que meu padrinho tinha sofrido um acidente na estrada de Janaúba para Montes Claros.

Foi um choque. Ninguém sabia ao certo o que havia acontecido. Meu padrinho perdeu a consciência e a memória por alguns instantes. Por força de Deus, ele continua com a gente. Mas eu não pude despedir-me do meu avô, pois corri para Janaúba para ajudar no que pudesse. Mas no desespero da minha avó, meu avô lhe disse mansamente: Jesus, fique tranquila, pois está tudo bem com Pedro.

No outro dia a cirurgia mais uma vez atrasou e eu não pude voltar ao hospital para ver como meu avô estava. Mas fiquei sabendo que ele tinha ido para a sala de cirurgia sorrindo e brincando como sempre, pois tinha feito amizade com todos do hospital. Ele até brincou com a equipe dizendo para não mudar seu sexo..

Não estava com o coração apertado, pois sabia que tudo daria certo. Quando por volta das 17:30 minha tia ligou e disse: Rafa, venha para o hospital pois a cirurgia complicou. Fui correndo com minha prima Fernanda, mas sabendo que poderia ser algo simples, que não era para preocupar. Mas no caminho meu coração começou a doer, forte. Algo que nunca senti. Com a dor veio um forte calor.

Quando chegamos ao hospital soube da sua morte. Não sei exatamente o que senti, mas a ficha não caiu. Ao subir, vi todo aquele desespero da minha mãe, das minhas tias avós e eu não sabia o que fazer. Não conseguia chorar até vê-lo na maca. Eu pedi pelo amor de Deus, para que aquilo fosse mentira, um pesadelo. Como uma das pessoas que eu mais amei estava ali numa maca, imóvel e pálido. Essa cena nunca saiu da minha cabeça. Desabei no choro.

Só ficava pensando como seria a nossa vida. Nos últimos meses meu avô ficou muito em minha casa e foi companheiro meu em muitas vezes que precisei. Sempre brincando, algumas vezes sem graça, mas sempre me ouviu e fazia o que pedia. Não sei o motivo ao certo, pois cabia a mim ouvir o que ele falava. Mas isso nunca mais seria possível. Não jogaríamos mais buraco, peteca, futebol e não ouviria mais chamar-me de "mané-meu-ti", uma maneira que chamava as pessoas quando queria dizer que tinha feito algo besta ou em que ele fosse melhor.

Aqui em casa preparando para ir para Janaúba para o seu velório, recebi a força de amigos que me ajudaram a ter um pouco de força. Lembro de quando Tio Avelino chegou em casa e desabei em choro, pois um era o companheiro do outro em dias longos de buraco e quando digo longo, eram realmente longos, das 10 da manhã até 1 da madrugada. Tio Avelino não tinha mais seu companheiro e amigo. Eu não tinha mais meu avô.

A viagem para Janaúba foi a mais longa que eu já fiz. Parecia uma eternidade. Não sei ao certo como consegui chegar até lá, pois por grandes momentos não conseguia parar de chorar. Havia ainda uma pessoa que não sabia da sua morte, seu filho Ronaldo que estava em Londres e não o via faziam 4 anos. Quando ele ligou para sua esposa que estava em meu carro, não aguentei e pensei que assim como eu, ele não pode dar o último abraço.

Não tinha mais forças para dirigir. Ouvi uma música no carro, que por providência, disse exatamente o que estava acontecendo:

" Se passo o dia, paro e escuto o vento
E ainda não posso entender
Como o improvável insiste em acontecer"

No seu velório, ainda custei a acreditar que tudo seria diferente. Eu sinceramente esperava que ele fosse o último a morrer. Não esperava vê-lo em minha frente dentro de um caixão, com todos chorando a sua ausência.

Mas para mim a pior parte foi voltar a fazenda e não vê-lo no alpendre, sentado na cadeira esperando a gente chegar. Aquela era uma cena comum e quando cheguei e não tinha mais aquela imagem, foi o pior vazio que uma pessoa pode sentir.

Dormi aos prantos querendo que no outro dia aquilo fosse diferente, que ele ainda estivesse ali.

Por todos os outros dias que se passaram, fiquei imaginando como seria aquele abraço que não dei. Não houve um dia sequer nesse um ano que não sentisse a sua falta e que não lembrasse dele. Todos os dias lembro de uma cena que me fez feliz com ele. Mas uma cena em especial na sua última semana me atormenta: quando me chamou para conversar e me disse, - Rafa, tive um pequeno corte em meu dedo, que não parava de sangrar. Você acha que tem algum problema? Você acha que dará tudo certo na cirurgia? E eu, acreditando que tudo daria certo, disse SIM, tudo vai dar certo. Se você fizer a cirurgia, vamos tê-lo até os 120 anos. Claro que se ele não fizesse a cirurgia, o câncer tomaria conta do seu corpo e ele teria um sofrimento ainda maior. O que me consola é o fato dele não ter sofrido, de ter brincado até o último momento.

Até então só tinha perdido uma pessoa tão próxima quando tinha 3 anos. Não sabia que essa dor fosse tão grande e que nunca irá passar. Os momentos felizes, as brincadeiras, as palhaçadas, seu sorriso fácil, sua amizade com todo mundo, fazem a saudade ser ainda maior. Essa dor não tem tamanho e por mais que nossa vida continue, sempre nos lembraremos dos momentos felizes que passamos juntos.

Tenho a certeza que de onde ele estiver estará olhando para nossas vidas, colocando uma mãozinha no nosso caminho. Está com certeza alegrando o ceu, com toda a sua diversão.



Zé, você alegrou a minha vida, foi meu exemplo e para sempre estará guardado em meu coração. Não esqueci de você nenhum dia e nunca esquecerei.

Não sei por que você se foi
Quantas saudades eu senti
E de tristezas vou viver
E aquele adeus não pude dar...

Você marcou na minha vida
Viveu, morreu
Na minha história
Chego a ter medo do futuro
E da solidão
Que em minha porta bate...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...

Eu corro, fujo desta sombra
Em sonho vejo este passado
E na parede do meu quarto
Ainda está o seu retrato
Não quero ver prá não lembrar
Pensei até em me mudar
Lugar qualquer que não exista
O pensamento em você...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...

Não sei por que você se foi
Quantas saudades eu senti
E de tristezas vou viver
E aquele adeus não pude dar...

Você marcou em minha vida
Viveu, morreu
Na minha história
Chego a ter medo do futuro
E da solidão
Que em minha porta bate...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...

Eu corro, fujo desta sombra
Em sonho vejo este passado
E na parede do meu quarto
Ainda está o seu retrato
Não quero ver prá não lembrar
Pensei até em me mudar
Lugar qualquer que não exista
O pensamento em você...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...

Eu gostava tanto de você!
Eu gostava tanto de você!
Eu gostava tanto de você!
Eu gostava tanto de você!